Hoje meu caçulinha faz 2 anos de vida! E para comemorar, segue o relato deste meu terceiro parto!
Eu tinha acabado de completar 37 semanas e tinha o último
pré-natal naquele dia, 02/12/2013. Pela manhã bem cedo fui ao supermercado e de
lá fui fazer a última ecografia. Meu bebê estava lá, lindão, forte e pronto
para nascer a qualquer momento. Da clínica de ecografia fui direto ao meu
trabalha (já estava de licença, mas fui buscar umas coisas e me despedir dos
colegas).
Saí do trabalho e fui almoçar no shopping, dali a duas horas
eu teria consulta pré-natal. Bati um pratão de arroz,farofa, carne e salada
(mal sabia eu que seria minha última refeição antes do parto). Fui ao
consultório, que estava lotaado. Muita gente em pé, mas logo me cederam uma
cadeira. Esperei por mais de uma hora. Neste momento eu já estava sentindo umas
coisas estranhas, um desconforto mas nunca pensei que fosse o início do TP.
Comentei isso com o médico, que fez um toque e disse: colo do útero amolecido
mas nada de dilatação, VAI DEMORAR UNS DOIS DIAS AINDA. Saí do médico com a
orientação de ir até a maternidade levar uns papéis do planos de saúde.
Consegui sair da maternidade quase 6h da tarde, horário de rush e muito
engarrafamento. Estava exausta, estava há mais de dez horas fora de casa mas
resolvi ir a um mercado perto esperar o engarrafamento diminuir pra poder ir
pra casa. Finalmente às 19h peguei o caminho de casa. Dirigi uma meia hora,
ainda sentindo o tal desconforto. Só pensava em chegar em casa, tomar um banho,
comer e me deitar. Meu marido já devia estar em casa cuidando dos outros dois
filhos mais velhos.
Estava pensando justamente nisso quando o tal desconforto
se transformou em uma pressão absurda no baixo ventre e eu senti alguma coisa
explodir dentro de mim. Levei uns três segundos pra conseguir entender e
perceber que minha bolsa havia estourado. Logo senti uma água quente saindo.
Comecei a repetir, em voz alta: “ah Meu Deus, a bolsa estourou, a bolsa
estourou, a bolsa estourou” e comecei a chorar. Logo respirei fundo e tentei
pensar no que fazer: tentar dirigir o restinho que faltava pra chegar em casa,
ligar para o GO, tomar um banho, ligar para o meu pai nos buscar (meu marido
não dirige), levar as crianças para a casa da minha mãe e ir para a
maternidade.
Cheguei em casa, Thiago estava dando banho na Clara.
Lembro-me que parei no corredor com as pernas abertas, a calça toda molhada e
disse chorando: minha bolsa estourou. Thiago ficou me olhando atônito e disse:
e agora? Vi que precisava me acalmar e tomar o controle da situação. Já fui
dando ordens pra ele, coitado, rss. Falei: “tira a Clara do banho, arruma ela,
pega um pano de chão e enxuga aqui pra ninguém escorregar (onde fiquei parada
já tinha formado uma poça). Vou tomar um banho e ligar pro médico e pro meu pai
nos levar para a maternidade”. Liguei para o médico, e falei: “oi doutor. Saí
da consulta pré natal e quando estava chegando em casa a bolsa estourou”. Ele
falou: também né Elen, você não para quieta, não sei o que queria dirigindo com
37 semanas!” eu comecei a rir porque há algumas horas atrás ele disse que meu
parto demoraria. Daí ele completou: “estou de plantão em outra maternidade.
Aqui não tem vaga, está lotado e eu não tenho como sair do plantão para ir na
outra maternidade, a que você vai ganhar nenê. Vai pra lá e pede para ser
avaliada pelo médico de plantão. Se ele avaliar que dá para esperar, às 7h
estarei lá para fazer seu parto”.
Meu pai chegou e
fizemos isso. Fomos deixar as crianças na casa da minha mãe e fomos para a
maternidade. Lembro que chovia muito. Meu pai ia dirigindo, o Thiago ia ao lado
dele e eu ia no banco de trás, sentada em cima de uma toalha. Meu pai dirigia
muito rápido (o hospital ficava a 30 km, e fizemos o percuso em 30/40 minutos
aproximadamente) e pulou alguns quebra-molas, o que fazia com que eu sentisse
mais dor. Como já estava com mais de duas horas de bolsa-rota, as contrações
doloridas se intensificavam. No caminho, Thiago mediu o tempo das contrações,
que vinham a cada 3 minutos certinho e duravam 40 segundos cada contração).
Chegamos ao hospital por volta de 22h, estava vazio. Fizemos
a ficha e fomos para o consultório ser avaliada pela médica de plantão (Dra.
Patrícia). Ela confirmou a bolsa rota e viu que o líquido estava limpinho mas
disse que, pela evolução, com certeza nasceria antes das 7h da manhã, ou seja,
não daria para esperar meu médico chegar (ela conversou isso com ele ao
telefone). Ela disse também que pelo meu histórico (2 cesáreas prévias) não
poderia tentar parto normal. Lembro que nessa hora perguntei: “Quantas horas,
doutora? Será que ele nasce hoje ou só amanhã?” A médica disse: “ são 22h, do
dia 2 de dezembro. Com certeza nasce hoje, daqui a pouquinho.” E lá fui eu para
o pré-parto, esperar que o Centro Cirúrgico fosse preparado.
Neste momento as dores estavam insurportáveis. Eu gemia alto
já. Estava naquele estágio que você não tem mais vergonha de ninguém, tá nem aí
se tem alguém olhando ou se você está gemendo alto demais, se está pelada ou se
está vestida. Eu só queria que Deus me ajudasse a suportar aquela dor. Vieram
os enfermeiros e me colocaram o acesso com soro no braço e a sonda na uretra.
Essa parte foi terrível, imagine você ter que ficar imóvel, com as pernas
abertas (encostando o solado dos pés um no outro) morrendo de dores e
contrações! É desumano, isso. Só queria descer para o CO e tomar a anestesia.
Meu marido estava o tempo todo comigo e tentava me encorajar, mas eu nem o
ouvia mais (é isso a partolândia?). Logo após o enfermeiro sair da sala do
pré-parto dizendo que logo viriam me buscar, chegou outra mulher também em
trabalho de parto, deitou-se na cama ao lado da minha, igualmente gemendo de
dor e a médica veio avaliá-la: dez centímetros de dilatação e bebê sentado.
Passaram ela na minha frente, correram com ela para o CO e eu tive que esperar
mais 1h ali no pré-parto, morrendo de dores e contrações.
Neste momento eu já estava sem noção de tempo. Só sabia
gemer de dor e gritar: “Deus, me ajuda, tira isso de mim (as dores).” No curto
intervalo entre as contrações eu ainda conseguia pensar em como as mulheres
conseguem suportar 12, 30 horas de trabalho de parto. Eu estava em TP há apenas
4 horas e estava no limite, não suportava mais. Sei que as condições em que eu
me encontrava (deitada, sem poder me mexer, com soro no braço e sonda na
bexiga), não ajudavam em nada eu encontrar uma posição melhor para aliviar as
dores das contrações. Thiago me ajudava como podia com massagem na lombar, mas
também tinha dificuldade em encontrar o local certo por causa da minha posição
na cama.
Finalmente, passado um tempo, vieram me buscar. Desse momento
em diante as coisas aconteceram muito rápido. Entrei no Centro Cirúrgico,
passei da maca para a cama e fiquei sentada para o anestesista dar a anestesia.
Lembro dele ter esperado a contração passar para eu ficar quieta e ele acertar
o local. Ele agiu rápido e as dores sumiram na hora. Falei: pronto Doutor,
agora eu posso esperar até amanhã se precisar. Todos riram.
Daí em diante foi tudo muito rápido. Thiago ao meu lado, em
pé, filmando tudo. As médicas conversando baixinho e o anestesista tentando melhorar
o desconforto que eu estava sentindo, uma espécie de torcicolo, que ele disse
ser pelo peso da barriga. Não tive enjôo algum (minha última refeição havia
sido o almoço, cerca de 11 horas antes). Pouco tempo depois de iniciado o
procedimento, escutei o chorinho mais lindo do mundo e a médica dizendo:
Bem-vindo, Lucas! Dos meus três filhos, foi o que chorou mais alto e mais forte
ao nascer. Apgar 9/10. Disseram a hora: 00h10min (a médica errou, disse que ele
nasceria ainda no dia 02, mas por dez minutos nasceu no dia 03/12). Como ele
nasceu muito bem e a plenos pulmões, o pediatra o trouxe e encostou o rosto
dele no meu. Pude, pela primeira vez sentir um filho meu assim que ele saiu da
barriga (os outros dois, como nasceram sem chorar, só vi de longe, logo foram
levados). Ficamos algum tempo juntos, encostadinhos, senti a pele dele molhada,
quente, o cheirinho de vérnix. Fiquei conversando com ele, na hora ele parou de
chorar, ficou me escutando, me sentindo. Sensação única, inexplicável,
indescritível. Nasceu com 3.030kg e 47cm. 37 semanas.
Tive alta 33 horas depois, louca pra ver meus outros dois
pequenos. E assim, iniciamos nossa nova vida em família.